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Muito se tem falado nos últimos anos da importância do acompanhamento por uma Terapeuta Ocupacional para as ditas “questões sensoriais” que se apresentam como uma das características do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mas, por que exatamente essas demandas são endereçadas a um TO? E ainda, que outras demandas, para além do diagnóstico posto, podem ser observadas em uma criança de modo a justificar essa procura?
A importância da Integração Sensorial dentro da TO se dá pelo fato de que os sistemas sensoriais compõem a base do desenvolvimento. É a partir da base sensorial, registro, processamento e organização das informações sensoriais do corpo e do ambiente que muitos conceitos de aprendizagem se formam, tanto do ponto de vista sensório motor para um uso eficiente do corpo no dia a dia, quanto para desenvolvimento da cognição e linguagem, que vão ser a base para a interação e participação social.
O exemplo perfeito deste conceito é uma pirâmide, onde a base sensorial vai dar a sustentação para aquisição de habilidades mais complexas de funcionalidade, como comer, se vestir e tomar banho, por exemplo, bem como participação na família, escola e amigos.
É importante que se compreenda que o universo sensorial vai para além da dificuldade de tolerar determinadas texturas ou sons. Esse quadro, chamado de hiper-reatividade, produz dificuldades significativas de participação, mas precisamos ficar atentos também às dificuldades que são da ordem do sensório-motor, que são igualmente limitantes.
Alterações sensorial motoras são observadas nas crianças que conseguem fazer muitas coisas que são esperadas para a idade, no entanto não conseguem fazer isso com qualidade. Por exemplo, caminham e correm, mas caem o tempo todo, esbarram nas coisas, precisam de mais ou muita ajuda para realizar as atividades cotidianas, tem dificuldade regulação da atenção, de parar quietas e de coordenar movimentos para o uso dos brinquedos e objetos. Andar de bicicleta, praticar esportes, realizar as atividades escolares também são tarefas muito desafiadoras. Tem baixa tolerância à frustração, tendem a escolher sempre as mesmas atividades e desenvolvem diversos comportamentos disfuncionais no intuito de evitar demandas. Acabam fazendo cada vez menos, e por sua vez, aprendendo cada vez menos.
Este panorama acontece não somente dentro do TEA, mas também em outros diagnósticos, TDAH, Transtorno do Desenvolvimento de Linguagem – TDL, Apraxia de fala, Síndrome de Down, Transtornos Alimentares, Paralisia Cerebral, etc., bem como em crianças que tem padrões de disfunção sensorial mas que não se encaixam em um diagnóstico específico.
Ao longo destes anos de experiência clínica, muitas crianças me foram encaminhadas por profissionais médicos, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas que percebiam lacunas na base do desenvolvimento dos seus pacientes, o que tornava mais demorados os resultados das suas próprias intervenções. Muitas famílias ficavam perplexas com o encaminhamento, visto que não percebiam a relação direta da TO com as queixas iniciais.
O resultado é que com a intervenção da TO chegávamos não somente a uma evolução mais rápida para a o trabalho dos colegas, mas também apareciam ganhos em áreas funcionais que antes não estavam tão evidentes. Mais autonomia nas atividades de vida diária, comer, tomar banho, se vestir, melhora na rotina, organização e coordenação motora são alguns deles. Relacionados a isso também aparecem ganhos indiretos, com crianças mais seguras, com falas mais compreensíveis e elaboradas, fazendo brincadeiras mais complexas e conseguindo resolver problemas com mais flexibilidade.
É incrível pensar que tantos ganhos de funcionalidade e participação são resultado de uma boa integração sensorial, e que, mediante uma avaliação abrangente e considerando as demandas trazidas pela família, produzimos intervenções mais assertivas.
Assertivas e divertidas, porque no universo da criança, é brincando que se aprende.