
Medicina do Estilo de Vida - Um olhar para o que realmente importa

Dr. Max Renato Martins
CRM/RS 45677
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Na tela, assiste-se a um filme que remete a um passado já remoto. Na cena, em uma cama de um quarto iluminado pela luz de algumas velas, uma família é acordada pelos gritos de dor de um de seus membros. Enquanto o enfermo no leito, sudorético, gemendo, se contorce em agonia, a aparente matriarca da casa se dirige a uma das crianças e lhe pede:
Vá correndo chamar o Doutor.
O pequeno então sai da casa correndo em desespero, pela madrugada, em busca de socorro. Ele chega, ofegante, a uma casa que, em seguida, após bater na porta, já é atendido por um Senhor, vestindo branco, que abre a porta com sua maleta na mão, como se estivesse já em prontidão, e sem tardar já sai a passadas largas pelo caminho da morada da família. No trajeto, o médico tenta obter as informações possíveis com o menino. Chegando à casa, tranquilizando a todos com a sua presença, vai acenando a todos com a cabeça e sem perder tempo se dirige ao leito do doente. Observa atentamente o ambiente ao seu redor, senta-se na cama ao lado de seu paciente, abre a sua maleta com não mais que três instrumentos para auxiliar em seu diagnóstico e passa a exercer a sua arte. Ele usa todos os seus sentidos e a sua experiência, além de todo o histórico da família, a qual ele já acompanha há muitos anos, que vem em sua memória para auxiliá-lo. Ele, sem receio, toca, ouve, observa e cheira o paciente, e a cena se desenrola enquanto todos esperam, confiantes, a cura que muitas vezes o médico já havia entregado naquela casa.
Uma boa quantidade de décadas após, dispomos de inúmeros instrumentos, uma infinidade de exames diagnósticos, telemedicina e inteligência artificial. O atendimento médico é feito cada vez mais distante da casa dos pacientes, em hospitais de alta complexidade, centros clínicos imponentes ou consultórios bem decorados, iluminados e confortáveis, normalmente localizados em centros urbanos. O tempo de atendimento torna-se cada vez mais escasso, normalmente sendo apenas o suficiente para que o doente diga brevemente o que lhe incomoda, enquanto atrás de uma mesa o médico aperta os botões de um teclado para, em seguida, entregar uma lista quase padrão de exames a serem realizados.
Aos poucos, ou nem tanto, o médico foi deixando a posição de "artista" e "curador", e foi assumindo o posto de prescritor. Nos acostumamos com essa nova experiência, principalmente pela comodidade proporcionada tanto para quem atende quanto para quem é atendido, e não tem sua rotina atribulada tão afetada pelo tempo exíguo necessário para a sua execução.
Entretanto, não há, e ousaria dizer que não haverá, tecnologia que substitua um aperto de mão firme, um abraço apertado, um olhar afetuoso, uma escuta atenta e desapressada e a disponibilidade de oferecer o cuidado a qualquer momento e em qualquer local. Os exames nos oferecem um auxílio imprescindível, mas o seu uso é sempre muito mais efetivo quando direcionado por uma boa história clínica e um exame físico bem realizado, sem receio de tocar no paciente e sem preocupação com o tempo investido nessa tarefa. A infinitude de possibilidades terapêuticas existentes hoje mudaram contundentemente os rumos da medicina e aumentaram de forma exponencial a qualidade e estimativa de vida da população. Porém, ainda se mostram sempre mais efetivas as medidas de prevenção e promoção de saúde, o autocuidado e um estilo de vida saudável e orientado ao bem-estar. Em resumo, é cada vez mais clara a necessidade da busca pela retomada de um cuidado médico individualizado, atencioso, focado na conexão com o paciente, responsável e primando pela visão integral do paciente. O caminho a seguir é em direção à volta da medicina como arte e do paciente como foco do processo.
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