Acompanhe as novidades e dicas de saúde e bem-estar
CRM/SC 15429 / RQE 20341
A alergia alimentar (AA) constitui um problema de saúde de prevalência crescente, alta morbidade e impacto negativo na qualidade de vida do paciente. É definida como uma resposta adversa a um dado alimento, é reprodutível, mediada por mecanismos imunológicos, podendo ser IgE mediada, não IgE ou mista. O processo instala-se quando o indivíduo não desenvolve tolerância oral ao antígeno, geralmente a proteína presente no alimento.
A patogênese das alergias alimentares envolve uma interação complexa entre a genética, a barreira intestinal, o sistema imune, a microbiota e os fatores ambientais. Os mecanismos envolvidos (IgE mediados, não IgE e mistos) e a sensibilidade dos diferentes órgãos- alvo são responsáveis pelas características clínicas e pela gravidade das manifestações.
A prevalência da AA é maior em lactentes e crianças, decrescendo com a idade. Dentre elas, a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) constitui a principal causa de alergia alimentar, com um pico de incidência no primeiro ano de vida e prevalência de aproximadamente 3% nos primeiros anos de vida.
A APLV pode causar manifestações clínicas diferentes de acordo com os locais acometidos e o mecanismo imunológico envolvido. Os IgE mediados (manifestação imediata) tem um período de desencadeamento entre minutos a 2 horas após exposição, os não IgE mediados (manifestação tardia) podem levar de horas a dias para desenvolverem sintomas. Os sintomas podem ser inespecíficos (recusa alimentar, choro, irritabilidade, falha de crescimento); gastrointestinais (diarréia com ou sem sangue e muco, constipação, vômitos, refluxo gastroesofágico, esofagite/ gastrite/ gastroenterite eosinofílicas); respiratórios (asma, rinite, tosse, dificuldade respiratória), dermatológicos (eczema, urticária, dermatite atópica, angioedema) e anafilaxia.
O correto diagnóstico da APLV é muitas vezes difícil e inclui história clínica, exame físico, dieta de restrição, teste de provocação oral (TPO) e testes alérgicos (nos IgE mediados).
O tratamento é feito por meio da exclusão da proteína do leite de vaca. Em crianças em vigência de aleitamento materno, faz-se a retirada da proteína do leite de vaca da dieta materna e avalia-se necessidade de suplementação de cálcio à mãe. Em contrapartida, quando não for possível o aleitamento materno, a escolha da fórmula especial leva em consideração aspectos como: idade da criança, segurança, eficiência, comprometimento do estado nutricional e manifestações clínicas. Tais fórmulas especiais incluem: fórmula infantil a base de proteína isolada de soja, fórmula extensamente hidrolisada com ou sem lactose e fórmula de aminoácidos livres.
Quanto ao prognóstico, aproximadamente 50% das crianças que já desenvolveram hipersensibilidade alimentar, adquirem tolerância no primeiro ano de vida; 75% em torno dos 3 anos e 90% se tornam tolerantes aos 6 anos. Particularmente, os pacientes com sintomas gastrointestinais têm prognóstico melhor quanto a aquisição de tolerância, comparados aos IgE mediados. O desenvolvimento da tolerância oral será avaliado através de TPO, levando-se em consideração o tempo de tratamento, idade, sintomatologia e exames (nos IgE mediados), sempre sob orientação e acompanhamento de seu médico.